A biblioteca escolar como equipamento social de inclusão cultural, por Maria das Graças Monteiro Castro
A biblioteca escolar como equipamento social de inclusão cultural
Maria das Graças Monteiro Castro
gracamcastro@ufg.br
Para tratar da efetividade da biblioteca escolar no Brasil retomo aqui, a análise dos dados da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil 2020, idealizada e realizada pelo Instituto Pró-Livro desde 2000 que configura e legitima um instrumento de medição e avaliação das práticas leitoras e dos equipamentos de leitura no Brasil.
Apesar do senso comum de que a escola não tem conseguido promover a formação do sujeito leitor, a pesquisa nos apresenta uma contradição, é na escola e pela influência do professor que o leitor tem surgido. Tomando como referência quem indicou o último livro para a faixa etária entre 5 e 17 anos, o professor aparece como o maior responsável.
Quando se pergunta pelo interesse pela literatura, nessa mesma faixa etária, a escola e o professor surgem como os maiores influenciadores. No conjunto desses indicadores o bibliotecário ou atendente da biblioteca são pouco referenciados.
Quando vamos analisar as preferências de leitura reveladas a partir das formas de acesso e a presença e significado da biblioteca escolar na formação do leitor podemos perceber a invisibilidade e a falta de dados concretos desse equipamento social. Os dados apresentados não conseguem traçar um perfil, necessário e imprescindível, da natureza da biblioteca escolar e do acervo disponível, mas estabelece uma relação direta entre os diferentes níveis de escolaridade e a motivação e a frequência de uso da biblioteca. Estes critérios são determinados pelas necessidades escolares: tarefas; trabalhos e indicações de livros literários.
A biblioteca escolar aparece como a terceira possibilidade de acesso ao livro e, quanto maior a estrutura, melhor a relação do usuário com a biblioteca. No entanto, esses dados estão condicionados à escolarização, só frequenta a biblioteca quem estuda. O índice de pessoas que não frequentam a biblioteca é muito alto, em torno de 68%, determinado pela falta de tempo, gosto e proximidade.
No entanto, devemos considerar que é na escola que a maioria das crianças brasileiras têm contato com a formalização do texto escrito, por meio do livro didático e a literatura e caberia à biblioteca garantir e ampliar esse acesso mediante outros suportes informacionais essenciais à formação leitora. E, nesse sentido, algumas premissas precisam ser consideradas como condição para que possamos constituir a biblioteca escolar: a relação entre a escola, biblioteca, o livro e a leitura para compreendê-la como elemento constitutivo para a construção do capital do conhecimento acumulado ao longo da história, cujo registro tenha-se dado sob a forma do texto escrito.
Bibliotecas são equipamentos culturais, sociais e educacionais fundamentais para a formação de cidadãos críticos e reflexivos. A sua existência na escola, com a presença do bibliotecário, ampara, não apenas o projeto pedagógico, mas garante o acesso ao livro, à leitura e à literatura.
É dever do Estado investir na construção e manutenção das Bibliotecas escolares. A lei vigente no. 12.244/2010, Lei da Universalização das Bibliotecas Escolares, estabeleceu que até maio do ano de 2020 toda escola, pública ou privada, deveria ter uma biblioteca com bibliotecário e acervo adequado. No entanto, a lei continua sem efeito prático e não reúne ações intersetoriais com diretrizes definidas, voltadas para a inclusão social a partir de experiências socializadoras e da existência de uma biblioteca no espaço pedagógico planejada para atender as diferentes etapas da escolarização da educação infantil à educação de jovens e adultos.
Assim sendo, algumas perguntas ainda ressoam: biblioteca escolar: que espaço é esse e a quem serve? Qual é o trabalho educativo da biblioteca escolar? Qual seria a efetividade da biblioteca na formação escolar? Qual seria a formação que o profissional bibliotecário deveria apresentar? Como seriam concebidas e implantadas essas bibliotecas no sistema de ensino brasileiro? Como seria operacionalizado uma política pública que estabelecesse as obrigações dos entes federados (União, Estados e Municípios)?
A defesa da existência de bibliotecas nas instituições de ensino para que sejam promovidas as condições concretas paro o acesso ao livro, aos bens culturais e ao conhecimento sistematizado produzidos socialmente e à leitura no país é óbvia – no entanto, não é garantia de efetividade. Os desafios são muitos para que consigamos garantir a existência da biblioteca nas escolas brasileiras, como um espaço vivo e em construção permanente, formando leitores e cidadãos críticos e autônomos, mediante a promoção de encontros, conhecimento, investigação e leituras sustentados pela natureza do nível de ensino e das suas propostas pedagógicas e concebidas como um equipamento social indispensável e responsável pela qualidade formativa do cidadão brasileiro, nos processos formais de ensino.
Referências
CASTRO, Maria das Graças Monteiro Castro. Bibliotecas escolares: livros nas estantes ou leituras que conquistam leitores e promovem aprendizagem?. In: FAILLA, Zoara (org). Retratos da leitura no Brasil 5. São Paulo: Instituto Pró Livro, 2012. p. 90-97. Disponível em: https://www.prolivro.org.br/wp-content/uploads/2021/06/Retratos_da_leitura_5__o_livro_IPL.pdf . Acesso em 09 ago. 2023.
CASTRO, Maria das Graças Monteiro Castro. Leia Goiânia: uma experiência pedagógica de criação de bibliotecas da secretaria municipal de educação de Goiânia. In: CLÍMACO, Arlene C.A. & LOUREIRO, Walderês, N. Para além da escola: por uma política pública intersetorial. Goiânia : Anpae/FUNAPE, 2013. p. 251-269.
CONSELHO FEDERAL DE BIBLIOTECONOMIA (CFB). Resolução CFB n°. 199, de 3 de julho de 2018. Dispõe sobre os parâmetros a serem adotados para a estruturação e o funcionamento das Bibliotecas Escolares. Brasília, 2018. Disponível em: https://www.cfb.org.br/wp-content/uploads/2018/07/Resolu%C3%A7%C3%A3o-199-Par%C3%A2metros-para-a-Biblioteca-Escolar.pdf . Acesso em: 01 dez. 2020.
Sobre a autora
Maria das Graças Monteiro Castro
É professora da Universidade Federal de Goiás. Coordenadora do LIBRIS/Laboratório do Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca da FIC/UFG. Leitora/Votante do Prêmio para a produção editorial brasileira na área infantil e juvenil da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil. Recebeu o prêmio Retratos da Leitura/2019, na categoria Bibliotecas, pelas ações de mediação e formação de leitura realizadas no Laboratório do Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca (LIBRIS). Presidente da Comissão Brasileira de Bibliotecas Escolares da FEBAB.
Graduada em Biblioteconomia pela Universidade Federal de Goiás, Mestra e Doutora em Educação pela Universidade Federal de Goiás.
Redação: Maria das Graças Monteiro Castro
Foto: Pedro Barcellos
Diagramação: Herta Maria de Açucena do Nascimento Soeiro