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v. 1, n. 5, jul. 2023
Entrevista com Bruno Henrique Machado e sua pesquisa sobre o sentido da fotografia de arquivo

Entrevista com Bruno Henrique Machado e sua pesquisa sobre o sentido da fotografia de arquivo

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Entrevista com Bruno Henrique Machado e sua pesquisa sobre o sentido da fotografia de arquivo

Bruno Henrique Machado

machadobrunohenrique@furg.br

Sobre o entrevistado

Em 2022, Bruno Henrique Machado finalizou seu doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação pela Universidade Estadual Paulista – Marília (UNESP), sob orientação da Prof.ª Dr.ª Telma Campanha de Carvalho Madio.

O recém doutor, natural de Mirassol – São Paulo, é ex-jogador de basquete e tem como hobbies fazer caminhadas e ler. Bruno atua como professor adjunto na Universidade Federal do Rio Grande e sua área de origem é o bacharelado em Arquivologia, também pela UNESP – Marília.

Sua tese, intitulada “O sentido da fotografia de arquivo: a compreensão da linguagem fotográfica na sua produção documental” teve como escopo compreender o sentido da fotografia no ambiente de arquivo, apresentando as contribuições que a linguagem fotográfica apresenta para a criação das fotografias institucionais. Seu olhar não se ateve para qualquer tipo de fotografia, mas para aquelas que cumprem funções administrativas e são chancelados como documento de arquivo, respeitando-se suas especificidades com o objetivo de manter a sua organicidade para servir de prova de ações administrativas institucionais. 

Nesta entrevista, Bruno nos relatou sua experiência durante o programa de doutorado, o desenvolvimento de sua pesquisa e as contribuições geradas para a área da Arquivologia.

Divulga-CI: O que te levou a fazer o doutorado e o que te inspirou na escolha do tema da tese?

Bruno Henrique Machado (BHM): Bem, acredito que a minha decisão de cursar doutorado teve seus primeiros momentos ainda quando estava no cursinho gratuito pré-vestibular Vestjr da Unesp campus de São José do Rio Preto, interior do Estado de São Paulo, onde tinha aulas com mestrandos e doutorandos. Mas, especificamente o Doutorado em CI, foi uma trajetória… Acho que natural! Teve início na Iniciação Científica, na graduação em Arquivologia pela Unesp, campus de Marilia, lá em 2012, sob a orientação da professora Telma Campanha de Carvalho Madio que já me questionava por que as fotografias no ambiente de arquivo recebiam um tratamento diferencial dos demais conjuntos documentos, ou seja, a questão do suporte e a informação. Então, novos questionamentos foram surgindo, claro que esses questionamentos não eram somente meus, mas de muitos outros pesquisadores brasileiros que me impulsionaram a seguir nesse tema de pesquisa que se desenvolveu muito nos últimos anos. 

DC: Em qual momento de seu tempo no doutorado você teve certeza que tinha uma “tese” e que chegaria aos resultados e  conclusões alcançados?

BHM: Bem, foi no momento da qualificação mesmo… Fiz o que muitos fazem, terminei o mestrado, prestei concurso para professor substituto e fui aprovado. E comecei a cursar o doutorado e lecionar ao mesmo tempo; Eu sabia que tinha uma tese a desenvolver, contudo, por estar na docência estava longe dos meus pares de pesquisa, apenas minha orientadora me norteava, porém, somente após a qualificação eu consegui compreender  que minha tese tinha fundamento e um porquê para sua existência. Acredito que a tese é um processo que vai se constituindo durante os anos de estudos, e é algo extremamente difícil com relação à ansiedade dos resultados e conclusões, sendo o processo das disciplinas realizadas, leituras e experiência docente que a tese vai se corporificando, ganhando seu verdadeiro sentido.

DC: Citaria algum trabalho (artigo, dissertação, tese) ou ação decisiva para sua tese? Quem é o autor desse trabalho, ou ação, e onde ele foi desenvolvido?

BHM: Minha orientadora foi decisiva na condução das indicações, a primeira indicação foi a leitura da Tese do Prof. André Porto Ancona Lopez, intitulada As razões e os sentidos: finalidade da produção documental e interpretação de conteúdos na organização arquivística de documentos imagéticos (2001) que foi a primeira tese a aprofundar teoricamente acerca da fotografia nos arquivos no Brasil;

Além do artigo: SCHWARTZ, Joan M. We make our tolls and our tools make us. Lessons from photography for the practice, politics and poetics of diplomatics. Archivaria: the journal of the Association of Canadian Archivists, Ottawa, n. 40, p. 40-74, 1995. Que apresentou metodologicamente a fotografia nos arquivos aproximando dos fundamentos da diplomática contemporânea. 

DC: Por que sua tese é um trabalho de doutorado, o que você aponta como ineditismo?

BHM: Como eu já mencionei, muitos pesquisadores a partir de 1970 vem desenvolvendo pesquisa sobre o tema. Contudo, as abordagens apresentadas não aprofundavam na produção da fotografia, ou seja, na linguagem fotográfica e que esse não entendimento causaria o que nomeamos de analfabetismo visual. Aí está o ineditismo, para que passamos organizar as fotografias nos arquivos e é fundamental compreender os elementos que constituem esse documento. 

DC: Em que sua tese pode ser útil à sociedade?

BHM: Bem, acredito que para o ambiente de formação universitária dos futuros profissionais da informação. 

DC: Quais são as contribuições de sua tese? Por quê?

BHM: Acredito que a tese é um trabalho que representa a trajetória de um pesquisador que há anos está procurando aperfeiçoar-se. Não o final, apenas o início. Talvez uma contribuição seja como referencial teórico para os cursos de graduação, em específico nos cursos de Arquivologia. DC: Quais foram os passos que definiram sua metodologia de pesquisa?

BHM:  Tive que mudar algumas vezes os métodos, lembrando que no meio do percurso, tivemos uma pandemia. Era para ser um estudo de caso, claro e objetivo com visitas ao local na situação no Senado Federal, contudo, tivemos que usar a técnica de entrevista via google meet. Infelizmente.

DC: Em termos percentuais, quanto teve de inspiração e de transpiração para fazer a tese?

BHM: Uns 80% de transpiração e 20% de inspiração. O desenvolvimento de uma tese pode ser penoso, ainda mais em uma pandemia.

DC: Teria algum desabafo ou considerações a fazer em relação à caminhada até a defesa e o sucesso da tese?

BHM: Cuidado com a saúde mental, não se cobre tanto. Fiz terapia, pratiquei atividade física, como caminhadas, por exemplo. Será exigido muito de você, fui bolsista Capes em um programa nota 6 na época, além da minha pesquisa tinha quase que a obrigação da publicação de artigos, são as regras do jogo.

DC: Como foi o relacionamento com a família durante o doutorado?

BHM: Minha família foi muito importante, morei por anos (2018-2020) em Rio Grande no Estado do Rio Grande Sul, como professor substituto a mais de 1700 km de distância de Marília/SP local onde estudava e tinha minha namorada, hoje noiva. E longe também de Mirassol/SP onde mora minha mãe, irmã e avós. Depois, retornei para Marília e veio a pandemia, isolamentos, muitas conversas por vídeo, eu digo que essas mulheres, aqui incluo minha orientadora, foram fundamentais até o término da tese.

DC: Qual foi a maior dificuldade de sua tese? Por quê?

BHM: Ah com certeza foi durante a pandemia, a escrita não fluía bem, a morte de amigos e colegas, foi muito pesado. Podemos dizer que somos sobreviventes.  Além disso, a minha cobrança foi muito pesada, eu pensava: “meus alunos têm que entender isso”. Nesse tempo, ainda, em agosto de 2021, abriu um edital para concurso de professor efetivo na Universidade Federal do Rio Grande, curso de Arquivologia e me inscrevi.  Fiz as duas coisas ao mesmo tempo, a finalização da tese e estudar para o concurso, fui feliz nos dois. 

DC: Que temas de mestrado citaria como pesquisas futuras possíveis  sobre sua tese?

BHM: São muitas possibilidades, no próprio estudo que realizei, notou-se um distanciamento entre os estudos das produções da fotográfica institucionais e ações praticadas nas rotinas dos arquivos e dos profissionais que ali atuam. Estudos aplicados a essas instituições serão um campo frutífero. Além, das questões recorrentes que são colocadas atualmente como o conceito de pós-fotografia e a atuação/competência dos arquivistas. Outro aspecto que pode ser estudado são os aperfeiçoamentos dos currículos dos cursos de Arquivologia, pensando nesse universo das imagens técnicas, como menciona Vilém Flusser. Há muito o que se pesquisar. 

DC: Quais suas pretensões profissionais agora que você se doutorou?

BHM: Fui aprovado no concurso para docente no final de 2021, em Fevereiro de 2022 estava defendendo a tese e em Abril de 2022 eu tomei posse, fui tudo muito rápido, desejo em 2023 com mais tranquilidade eu posso desenvolver uma agenda de pesquisa dentro da temática que eu venho pesquisando há mais de 10 anos.  

DC: O que faria diferente se tivesse a chance de ter começado sabendo o que sabe agora?

BHM: Exigiria um pouco menos de mim, minha saúde e psicológico foram bastante abalados.

DC: Como você avalia sua a produção científica durante o doutorado (projetos, artigos, trabalhos em eventos, participação em laboratórios e grupos de pesquisa)? Já publicou artigos ou trabalhos resultantes da pesquisa? Quais você aponta como os mais importantes?

BHM: Obtive publicações de artigos, sempre com temas relacionados à fotografia, contudo, não foram muitos devido ao meu percurso profissional acontecer juntamente com o doutoramento. Além disso, meu processo de produção científica é um pouco contra o sistema, isso eu devo a minha orientadora, prezar sempre pela qualidade. Mas destaco o artigo A fotografia institucional na Organização do Conhecimento Arquivístico: compreendendo o processo de evidenciação documental como parâmetro de organização. Além disso, fui organizador de um livro em coletânea juntamente com as professoras Telma Campanha de Carvalho Madio e Maria Leandra Bizello sobre fotografia e Arquivos, onde alguns pesquisadores puderam apresentar tanto suas reflexões como ações práticas. Pretendo voltar 2023 com as produções e quero realizar alguns ajustes na minha tese para uma possível publicação em livro, ebook preferivelmente.

DC: Exerceu alguma monitoria/estágio docência durante o doutorado? Como foi a experiência?

BHM: Sim, ao retornar para Marília em 2020, eu fui contemplado com a Bolsa Capes, e dentre algumas recomendações era necessário a realização de Estágio Docência, mesmo com a experiência de professor substituto por quase dois anos. Foi uma experiência muito diferente do que eu estava habituado, era um contexto de sala de aula virtual, aulas pelo google meet,  tive que aprender muito rápido e rotina é outra, por exemplo: mais de uma hora de aula os alunos não suportavam. Devo muito à professora Maria Leandra Bizello pela paciência por me orientar da melhor maneira possível. 

DC: Elas contribuíram em sua tese? De que forma?

BHM: Acredito que sim, tese não é um texto fácil de ler. Procurei ser o menos enfadonho possível, notando como eu poderia desenvolver uma ideia e o alunos pudessem compreender. 

DC: Agora que concluiu a tese, o que mais recomendaria a outros doutorandos e mestrandos que tomassem seu trabalho como ponto de partida?

BHM: Pergunta difícil, temos muitas pesquisas boas sendo realizadas Ciência Informação, Arquivologia a minha está entre elas, então gostaria que eles realizassem uma leitura crítica, questionando sempre. Naquele momento eu pensava daquele modo, talvez hoje não mais. Ficaria feliz se minha tese aponta-se perguntas para esses estudantes. 

DC: Como acha que deve ser a relação orientador-orientando?

BHM: Não tenho o que reclamar, tive o privilégio de ser orientado pela professora Telma Campanha de Carvalho Madio. Foi uma parceria de sucesso, muito aprendi com ela. Contudo, eu sei que fui privilegiado. Tenho colegas que não tiveram a mesma sorte. Não somos capacitados para orientar alunos, aprendemos como os exemplos que vivemos, dessa maneira, essa relação deve ser pautada pelos programas de pós-graduação com muita seriedade. 

DC: Sua tese gerou algum novo projeto de pesquisa? Quais suas perspectivas de estudo e pesquisa daqui em diante?

BHM: Como já disse, vou implementar as ações neste 2023. 

DC: O que o Programa de Pós-Graduação fez por você e o que você fez pelo Programa nesse período de doutorado?

BHM: Muito me auxiliou quando necessário. Porém, é um programa que busca a excelência, então apresenta uma certa cobrança por resultados de publicações. São as regras  (risos).

DC: Você por você: 

BHM: Tentei ser carateca e não consegui, não tinha espírito de sempre atacar, gostava mais de defender. Uma coisa boa, me ajudou na postura. Joguei basquete por três anos, joguei campeonato paulista, jogos regionais, vitórias e derrotas, parei com tudo para estudar, queria entrar na Universidade. Entrei na Universidade com 20 anos sai de lá aos 31 anos com meu título de doutorado, o único da família até o momento. Das competições que tive, essa foi a mais assustadora e divertida. E hoje formo pessoas, muito a aprender e talvez pouco a ensinar. O conhecimento é infinito, nesse caminhar de estudos aprendi que quanto mais estudamos, mais temos a estudar, a aprender… 

Esse sou Eu.  


Entrevistado: Bruno Henrique Machado

Entrevista concedida em: 22 mar. 2023 aos Editores.

Formato de entrevista: Escrita 

Redação da Apresentação: Herta Maria de Açucena do Nascimento Soeiro

Fotografia: Ricardo Antúnez

Diagramação: Herta Maria de Açucena do Nascimento Soeiro

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