Entrevista com Luís Carlos da Silva e sua pesquisa sobre resiliência informacional no contexto da homofobia
Entrevista com Luís Carlos da Silva e sua pesquisa sobre resiliência informacional no contexto da homofobia
Luís Carlos da Silva
luiscarlossilva.lcs@gmail.com
Sobre o entrevistado
Em 2022, o recém mestre Luís Carlos da Silva concluiu seu mestrado pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal da Paraíba, sob orientação do Prof. Dr. Edvaldo Carvalho Alves.
Aos 29 anos e natural de João Pessoa, na Paraíba, nas horas vagas Luís gosta de assistir séries, filmes, desenhos e ler. Após a conclusão do mestrado, ingressou no programa de doutorado em Ciência da Informação, também pela Universidade Federal da Paraíba.
Luís defendeu sua dissertação intitulada “A resiliência informacional no contexto da homofobia: o papel das práticas informacionais no espaço LGBT de João Pessoa-PB”, cujo objetivo foi analisar se ou como as práticas informacionais constituídas no Espaço LGBT Pedrinho têm contribuído na construção da resiliência informacional, isto é, como sujeitos participantes perpassam cenários não familiares, se ressignificando e reconstituindo suas práticas diante do contexto da homofobia. Como resultado, o pesquisador observou como os sujeitos participantes desenvolveram práticas informacionais cotidianas que contribuíram para o reconhecimento da orientação sexual, bem como na promoção da resiliência informacional diante da homofobia, concluindo que os espaços públicos, como o local de estudo, são essenciais na mediação de informações relevantes para grupos minoritários.
Convidamos o Luís para relatar como foi sua experiência no programa de mestrado, os desdobramentos de sua pesquisa e perspectivas.
Divulga-CI: O que te levou a fazer o mestrado e o que te inspirou na escolha do tema da tese?
Luís Silva (LS): Sempre fui envolvido com a pesquisa durante a graduação, o que acabou levando ao conhecimento do mestrado, despertando assim meu interesse. No PIBIC, durante a graduação de Relações Públicas, tive contato com o conceito de resiliência informacional e como tinha interesse em trabalhar com sujeitos marginalizados na sociedade, encontrei no mestrado a oportunidade ideal.
DC: Quem será o principal beneficiado dos resultados alçados?
LS: Por compreender que há uma naturalização da LGBTQIAfobia no cotidiano, senti que era o momento de dar visibilidade a essa forma de invisibilização que a população LGBTQIA+ se depara cotidianamente, buscando que pesquisadores/as que se interessam pelo universo LGBTQIA+, bem como pessoas LGBTQIA+ pudessem encontrar um acalento informacional em minha pesquisa.
DC: Quais as principais contribuições que destacaria em sua dissertação para a ciência e a tecnologia e para a sociedade?
LS: Na área científica, a contribuição se deu com o desenvolvimento do conceito de resiliência informacional e o fortalecimento dos estudos de práticas informacionais e discussões sobre gênero e sexualidade, sendo estes ainda muito recentes no campo da Ciência da Informação. Para a sociedade, a minha dissertação possibilita que haja um debate sobre um fenômeno que vem silenciando diariamente a população LGBTQIA+, além de poder direcioná-la para o Espaço LGBT Pedrinho, ambiente que vem desempenhando um trabalho importante na Paraíba no que tange a promoção da cidadania LGBTQIA+ e enfrentamento à LGBTQIAfobia.
DC: Seu trabalho está inserido em que linha de pesquisa do Programa de Pós Graduação? Por quê?
LS: Na época em que defendi o meu trabalho estava inserido na linha de pesquisa “Organização, acesso e uso da informação”, pois na minha dissertação busquei compreender como sujeitos LGBTQIA+ buscam, selecionam, entendem, usam e se apropriam da informação diante da homofobia.
DC: Citaria algum trabalho (artigo, dissertação, tese) ou ação decisiva para sua tese? Quem é o autor desse trabalho, ou ação, e onde ele foi desenvolvido?
LS: A tese “Resiliência Informacional: modelo baseado em práticas informacionais colaborativas em redes sociais virtuais” de Fellipe Sá Brasileiro, defendida em 2017 pela Universidade Federal da Paraíba, foi essencial para compreender o conceito de resiliência informacional e as relações com outros conceitos.
DC: Quais foram os passos que definiram sua metodologia de pesquisa?
LS: As disciplinas voltadas à construção de pesquisa na graduação, bem como a leitura da tese sobre o conceito de resiliência informacional, me fizeram estruturar uma metodologia que sofreu poucas mudanças no mestrado. Assim, por querer o contato físico e vivenciar a minha pesquisa a partir dos olhares dos sujeitos participantes, decidi que seria uma pesquisa de campo. Para a realização da coleta de dados, adotamos o questionário sociodemográfico e a entrevista semiestruturada. Na delimitação dos sujeitos participantes, direcionamos para indivíduos gays, visando entender em profundidade aspectos de suas vivências. O campo empírico foi o mesmo do anteprojeto, pois tinha feito pesquisas antes sobre quais espaços informacionais existiam em relação com o objetivo da pesquisa. Para a análise dos dados, utilizamos o Discurso do Sujeito Coletivo, o qual busca expressar uma determinada opinião sobre um tema em um discurso-síntese.
DC: Quais foram as principais dificuldades no desenvolvimento e escrita da dissertação?
LS: Foi, sem dúvida, a própria escrita da dissertação, tenho boas amigas e professores/as que enfatizam o quanto escrevia bem, mas no processo da qualificação fiquei muito inseguro se estava fazendo algo com boa qualidade, isto é, para além do senso comum, já que temos que manter o padrão da norma culta. Quando mandei a primeira versão da qualificação, processo anterior ao trabalho final, estava indo no caminho certo para minha surpresa, mas continuei inseguro até a defesa da dissertação. Como é perceptível foi algo que me assombrou durante o desenvolvimento da escrita da dissertação.
DC: Em termos percentuais, quanto teve de inspiração e de transpiração para fazer a tese?
LS: Fiquei pensativo com esse questionamento, mas acredito que foi 50% para ambos. Ao longo dos dois anos, sempre me mantive engajado em tudo que eu almejava fazer e, de certa forma, fiz, o desejo de tornar a ideia do anteprojeto real me inspirou muito. A transpiração também foi fortalecendo a cada leitura, a cada (des)construção de conhecimento, mas também pelo desejo de me tornar mestre, foi uma experiência muito boa.
DC: Teria algum desabafo ou considerações a fazer em relação à caminhada até a defesa e o sucesso da dissertação?
LS: Fiz o mestrado durante a pandemia de Covid-19, logo, ir às aulas remotas, fazer as leituras dos textos bases para a escrita da dissertação e escrevê-la tornaram esse tempo significativo. Assim, não se tinha uma visão de futuro, a incerteza prevalecia, mas a minha dissertação era algo concreto. Na reta final, quando estava analisando os dados da dissertação meu notebook parou de funcionar, fiquei algumas semanas sem escrever. Então, decidi escrever a mão e depois passar para o documento online, o que acabou acontecendo. Almejar ter sucesso na finalização da dissertação, me fortaleceu mesmo diante das adversidades.
DC: Como foi o relacionamento com a família durante este tempo?
LS: Foi tranquilo, minha família sempre me apoiou na minha jornada acadêmica.
DC: Agora que concluiu a dissertação, o que mais recomendaria a outros mestrandos que tomassem seu trabalho como ponto de partida?
LS: Seja paciente com o/a leitor/a, apresentando o máximo de informações possíveis no que tange a conceitos, metodologia e resultados, mesmo com o rigor da escrita acadêmica, escreva com uma linguagem simples que permita-lhe ser compreendido.
DC: Como você avalia a sua produção científica durante o mestrado? Já publicou artigos ou trabalhos resultantes da pesquisa? Quais você aponta como os mais importantes?
LS: Durante o mestrado fiz algumas produções, mas só publiquei um artigo na Revista Conhecimento em Ação, intitulado “Um estudo sobre a produção científica em gênero e sexualidade na Ciência da Informação através da análise de redes sociais”. Além disso, participei de eventos. Em relação aos resultados da dissertação, fiz um artigo, o qual foi aceito e está prestes a ser publicado pela Revista Folha de Rosto.
DC: Desde a conclusão da dissertação, o que tem feito e o que pretende fazer em termos profissionais?
LS: Quando estava na reta final da escrita da dissertação, decidi fazer o processo seletivo para o doutorado e, no momento, estou cursando.
DC: Pretende fazer doutorado? Será na mesma área do mestrado?
LS: Sempre tive vontade e com o prazo para a finalização do mestrado chegando próximo, decidi que era o momento certo, o qual não me arrependo, estão sendo bons momentos. O anteprojeto foi construído na mesma área.
DC: O que faria diferente se tivesse a chance de ter começado sabendo o que sabe agora?
LS: Ser mais generoso comigo, saber que está tudo bem em errar, que não precisa ser perfeito em tudo, é um processo de aprendizagem, só aproveite, pois passa muito rápido.
DC: O que o Programa de Pós Graduação fez por você e o que você fez pelo Programa nesse período de mestrado?
LS: Pude aprender muito academicamente e me desenvolver como pesquisador. Meu retorno ao programa se deu na entrega de uma pesquisa que possibilitará que outros pesquisadores possam utilizá-la para o avanço dos estudos sobre a população LGBTQIA+, práticas informacionais e resiliência informacional, no campo da Ciência da Informação. Além disso, na medida do possível, publiquei artigos.
DC: Citaria algum trabalho (dissertação/tese ou projeto) decisivo para sua dissertação? Quem é o autor deste trabalho e onde ele foi desenvolvido?
LS: O livro “Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-estruturalista” de Guacira Louro, foi decisivo para minha dissertação, pois possibilitou uma compreensão das temáticas de gênero e sexualidade.
DC: Você por você:
LS: Mainha já chegou a falar que o sonho dela era que todos seus filhos pudessem estudar, já que ela não teve a oportunidade. Sou muito grato a ela que sempre acreditou nesta dádiva. Durante esses anos, percebi o quanto cresci como pessoa, como profissional e isso tem me motivado a buscar me desenvolver ainda mais. Desejo que muitos/as outros/as sejam os/as primeiros/as da família a ter a oportunidade de ter ensino superior, que possam, mesmo com várias adversidades, se sentirem realizados ao conseguir entregar um texto acadêmico. A você LGBTQIA+ espero que ocupe mais espaços de sociabilidade e que participe do mundo da pesquisa.
Entrevistado: Luís Carlos da Silva
Entrevista concedida em: 15 mar. 2023 aos Editores.
Formato de entrevista: Escrita
Redação da Apresentação: Herta Maria de Açucena do Nascimento Soeiro
Fotografia: Luís Carlos da Silva
Diagramação: Herta Maria de Açucena do Nascimento Soeiro