Entrevista com Tatiely Mayara de Oliveira Neves sobre sua pesquisa que discutiu a representatividade de mulheres como editoras-chefes de periódicos científicos
Entrevista com Tatiely Mayara de Oliveira Neves sobre sua pesquisa que discutiu a representatividade de mulheres como editoras-chefes de periódicos científicos
Tatiely Mayara de Oliveira Neves
tatielymon@hotmail.com
Sobre a entrevistada
Em 2022, Tatiely Mayara de Oliveira Neves defendeu a sua dissertação de mestrado pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal da Bahia, sob orientação da Profª. Drª. Hildenise Ferreira Novo.
Natural da Bahia, Tatiely tem 33 anos e possui formação em Letras Vernáculas e Biblioteconomia e Documentação, atuando na educação básica. Além disso, tem hobbies como: andar de bicicletas; ouvir CD’s antigos e podcasts; assistir filmes de drama e suspense; ler livros e se aventurar na cozinha.
A dissertação intitulada “Editoras-chefes de revistas em Ciência da Informação no Brasil: representação e representatividade”, buscou discutir as relações que envolvem: a informação científica, a mulher e as questões de gênero dentro da comunicação científica, analisando a representação das equipes editoriais dos periódicos científicos nacionais das áreas de Biblioteconomia e Ciência da Informação. O trabalho objetivou, principalmente, evidenciar a importância da mulher na ciência e sua contribuição no âmbito dos periódicos, bem como as disparidades de gênero dentro das políticas de editoração.
Pedimos para a Tatiely nos contar um pouco sobre sua trajetória no programa de mestrado e a sua experiência no desenvolvimento da dissertação.
Divulga-CI: O que te levou a fazer o mestrado e o que te inspirou na escolha do tema da tese
Tatiely Neves (TN): A motivação central era vencer na vida com os estudos (risos). Eu sempre pude contar com a torcida da minha família para os estudos mesmo em momentos difíceis, então o mestrado era uma ideia longínqua que ao produzir o TCC para o curso de Biblioteconomia e Documentação, meados de 2019, tornou-se um plano viável muito motivado por minha rede de apoio que acabou por me levar a acreditar que era mesmo possível de concretizar, assim que concluísse a graduação. Assim, a pesquisa intitulada de “O protagonismo de mulheres na política de editoração de periódicos científicos da região Nordeste: em foco a Biblioteconomia e a Ciência da Informação”, com a orientação e todo o afeto da maravilhosa professora Leyde Klebia. E dessa forma, esse tema deu o impulso necessário para formular o projeto para a dissertação, pois alguns objetivos não foram concluídos na apuração feita na região Nordeste, era preciso ampliar para o território nacional.
DC: Quem será o principal beneficiado dos resultados alçados?
TN: Além de possibilitar destacar a produção intelectual da mulher que ainda carece de mais reconhecimento e valorização em todas as áreas do conhecimento. A pesquisa se mostrou também como um manifesto de apoio à educação, especialmente no que tange às universidades públicas brasileiras que propicia que as pessoas sejam incluídas, tenham acesso à educação de qualidade e tornem-se pesquisadoras e pesquisadores, apesar de todo momento tenebroso e obscuro que vivenciamos nos últimos anos. E eu acho que isto pode beneficiar trazendo esperança para toda e qualquer pessoa que acredita na educação como libertação.
DC: Quais as principais contribuições que destacaria em sua dissertação para a ciência e a tecnologia e para a sociedade?
TN: Sobre as contribuições que esta pesquisa suscita, sobretudo, é colaborar para e com o tema da equidade de gênero na Biblioteconomia e na Ciência da Informação (BCI). Outro fator de suma importância refere-se à potencialização do desenvolvimento econômico e social do país. Isso porque, quando não existe representatividade da mulher na ciência, ou até mesmo, quando não fica evidenciada a sua produção intelectual e a sua participação em cargos de poder, interrompe avanços nas sociedades como um todo, tendo em vista que pode sucumbir sonhos de meninas/mulheres de serem o que elas quiserem ser.
DC: Seu trabalho está inserido em que linha de pesquisa do Programa de Pós-graduação? Por quê?
TN: Na linha de pesquisa: produção, circulação e mediação da Informação. Isto porque a informação científica dentro da pesquisa foi analisada por vários contextos da representação social que configuram a atualidade visando assim a representatividade das mulheres no campo científico. Foi adotado um enfoque na circulação da informação, na recepção e da produção de sentidos nessa perspectiva de análise.
DC: Citaria algum trabalho (artigo, dissertação, tese) ou ação decisiva para sua dissertação? Quem é o autor desse trabalho, ou ação, e onde ele foi desenvolvido?
TN: Em 2018, houve através da iniciativa das pesquisadoras Franciéle Carneiro Garcês da Silva e Nathália Lima Romeiro, o Selo Nyota, que as temáticas sociais começaram a reconfigurar a forma de trabalhar com a BCI no Brasil, enaltecendo, assim, o protagonismo da mulher que produz na área. E esse material bibliográfico foi essencial para embaçar o referencial teórico do projeto até se tornar uma dissertação, de fato.
DC: Quais foram os passos que definiram sua metodologia de pesquisa?
TN: Foram utilizadas duas frentes de investigação. A primeira visando a dimensão representacional da mulher na ciência partindo da perspectiva de visibilidade em espaços de poder científico. Já a segunda foi pelo envolvimento da questão de gênero visando a promoção de uma discussão mais problematizadora para resplandecer para uma significativa representatividade. Basicamente, a representatividade no ramo da editoria científica no trabalho de pesquisa se apoderou dos sites de periódicos da BCI, encontrados pela Plataforma Sucupira e o contraste da vida acadêmica, usando informações do Currículo Lattes. Dessa forma, tínhamos os papéis sociais das editoras-chefes pelo prisma da mulher na ciência e pela responsabilidade social por meio das editorias dos periódicos da BCI.
DC: Quais foram as principais dificuldades no desenvolvimento e escrita da dissertação?
TN: Tive muitas dificuldades por conta do momento pandêmico, foram dias difíceis e complicados que passei com a minha família. Estudar em meio ao distanciamento social com aulas remotas e a orientação a distância, senti a falta das bibliotecas físicas. O que ajudou foram os registros das comunicações científicas na internet, material bibliográfico disponível em formato PDF, reuniões de grupos de pesquisa em canais digitais que possibilitam o acesso à informação e à troca de experiências e lamentações.
DC: Em termos percentuais, quanto teve de inspiração e de transpiração para fazer a dissertação?
TN: Eu acho que tive uns 30% de inspiração e 70% de transpiração para fazer a dissertação. Mesmo tendo afinidade com o tema, a pandemia afetou muito o meu rendimento. Eram dias tristes com pouca produtividade e muita preocupação que compartilhava com a minha orientadora.
DC: Teria algum desabafo ou considerações a fazer em relação à caminhada até a defesa e o sucesso da dissertação?
TN: Eu acredito que trabalhei muito abaixo do que poderia oferecer. Fiquei muito desmotivada, com crises de ansiedade por não conseguir escrever, era uma desordem psicológica que causava uma sensação muito grande de incapacidade para concluir a dissertação. Após a qualificação, eu fiz um combinado comigo e me apeguei ao compromisso que assumi ao passar na seleção e fui me convencendo aos poucos que precisava fechar de qualquer forma o ciclo “mestrado” no primeiro semestre de 2022. Eu não posso deixar de mencionar que pude contar com a sorte de ter pessoas maravilhosas ao meu lado que deram uma força mesmo à distância.
DC: Como foi o relacionamento com a família durante este tempo?
TN: Não foi fácil. A família mesmo dizendo que compreendia o processo solitário de estudo e pesquisa queria atenção e eu não conseguia oferecer em diversas circunstâncias. Era um exercício contínuo de tolerância e empatia que precisava ser lembrado toda vez que alguém esquecia. No fim deu tudo certo!
DC: Agora que concluiu a dissertação, o que mais recomendaria a outros mestrandos que tomassem seu trabalho como ponto de partida?
TN: Não deixe de cuidar da sua saúde mental, pois além dos muros da academia, há sempre uma vida para ser vivida. Temos que respeitar o que somos capaz de realizar. Esse é um dos ensinamentos que a minha orientadora não me deixava eu esquecer quando era acometida pelas inseguranças naturais do processo.
DC: Como você avalia a sua produção científica durante o mestrado (projetos, artigos, trabalhos em eventos, participação em laboratórios e grupos de pesquisa)? Já publicou artigos ou trabalhos resultantes da pesquisa? Quais você aponta como os mais importantes?
TN: Foi uma produção científica muito humilde. Participei de uma mesa virtual no II Congresso Virtual da UFBA sobre os projetos de pesquisas. Palestrei em um outro evento online, Diálogos da Biblioteconomia. Gênero e Raça: estudos, experiências e atuações, promovido pela UFMA. Tive dois artigos publicados: um pela revista Logeion: Filosofia da Informação, intitulado “O Papel da Informação a as Vertentes do Poder: um Breve Manifesto a favor da educação a da ciência” e o outro pela Biblos, denominado “A questão de gênero na editoria de revistas científicas: representatividade das mulheres”.
DC: Desde a conclusão da dissertação, o que tem feito e o que pretende fazer em termos profissionais?
TN: Depois da defesa estou dedicando todo o meu esforço tentando organizar a minha rotina de estudos para conseguir passar em algum concurso público. Eu tenho muita vontade de atuar como bibliotecária que até hoje não consegui realizar, tive experiência apenas no período quando era estagiária. Enquanto nada disso acontece trabalho atualmente com a educação municipal.
DC: Pretende fazer doutorado? Será na mesma área do mestrado?
TN: Penso em fazer o doutorado em um futuro remoto, somente quando eu tiver uma estabilidade financeira de uma servidora pública devidamente empossada. E em relação a área, talvez manteria a área colocando colaborações de outras, aproveitando a interdisciplinaridade do objeto de estudo.
DC: O que faria diferente se tivesse a chance de ter começado sabendo o que sabe agora?
TN: Eu procuraria pegar mais disciplinas em outros institutos e iria agilizar o cumprimento dos créditos e o tirocínio obrigatório. Tentaria participar mais de eventos antes de qualificar.
DC: O que o Programa de Pós-graduação fez por você e o que você fez pelo Programa nesse período de mestrado?
TN: Eu tive uma relação boa com o PPGCI. Até porque, devido a pandemia só tivemos apenas um semestre presencial e todo o restante foi realizado de maneira online e ocasionalmente tinha que recorrer aos emails para tirar eventuais dúvidas sobre os procedimentos e prazos. Eu acredito que o que eu fiz pelo programa foi a minha humilde produção científica. Não foi possível ser mais atuante diante das circunstâncias.
DC: Citaria algum trabalho (dissertação/tese ou projeto) decisivo para sua dissertação? Quem é o autor deste trabalho e onde ele foi desenvolvido?
TN: É uma obra que abre um leque imenso para pesquisar e ir às fontes, apenas analisando as referências que as autoras utilizaram (existe na versão online):
SILVA, Franciéle Carneiro Garcês da; ROMEIRO, Nathália Lima (org.). O protagonismo da mulher na Biblioteconomia e Ciência da Informação: celebrando a contribuição intelectual e profissional de mulheres latino-americanas. Florianópolis: Rocha Gráfica e Editora; Selo Nyota, 2020.
Essa foi a leitura e a autora que mais inspirou a construir a pesquisa sobre a questão de gênero:
OLINTO, Gilda. A inclusão das mulheres nas carreiras de ciência e tecnologia no Brasil. Inclusão Social, Brasília, v. 5, p. 68-77, 2012.
Essas duas foram as leituras mais transformadoras que fiz e sempre que necessário vou recorrer:
BAIRROS, Luiza. Nossos Feminismos Revisitados. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 3 n. 2, 1995.
HARAWAY, Donna. Saberes localizados: a questão da ciência para o feminismo e o privilégio da perspectiva parcial. Cadernos Pagu, 5. Campinas: Ed. Unicamp, v. 5, p. 07-41, 1995.
DC: Você por você:
TN: Mulher sertaneja e pesquisadora, entusiasta da paz e tranquilidade, leitora que quase nunca consegue cumprir suas próprias metas literárias, concurseira esperançosa que ainda vai chegar o meu momento no serviço público seja como professora e/ou bibliotecária. E no mais sigo a vida “mostrando como sou e vou sendo como posso”, assim como já dizia os Novos Baianos.
Entrevistada: Tatiely Mayara de Oliveira Neves
Entrevista concedida em: 31 jan. 2023 aos Editores.
Formato de entrevista: Escrita
Redação da Apresentação: Herta Maria de Açucena do Nascimento Soeiro
Fotografia: Tatiely Mayara de Oliveira Neves
Diagramação: Herta Maria de Açucena do Nascimento Soeiro