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v. 1, n. 3, maio. 2023
A cultura material negra e os obstáculos para a sua musealização

A cultura material negra e os obstáculos para a sua musealização

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A cultura material negra e os obstáculos para a sua musealização

Pesquisadora da UNIRIO aborda as dificuldades em coleções formadas por acervo material negro africano em serem reconhecidos como patrimônio cultural e como isso materializa práticas excludentes na sociedade

Considerando que os órgãos oficiais resistem em reconhecer os objetos produzidos pelos povos negros que viviam e vivem ao sul do deserto do Saara, desde o século XVI, como patrimônio cultural, pesquisadora do Programa de  Pós-Graduação em Museologia e Patrimônio da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, busca identificar e problematizar a permanência de discursos que materializam o apagamento, as subrepresentações e a exclusão dos africanos e dos afrodiaspóricos nos espaços oficiais.

Para a pesquisadora, Eloísa Ramos Souza  em sua tese de doutorado, “A Coleção (de artes) Africanas Savino Em Busca da Musealização” os obstáculos para a musealização de itens materiais dos povos africanos é uma herança do mundo colonial que se conserva de forma naturalizada, tendo como consequência imediata o apagamento, as sub-representações e a exclusão dos africanos, especialmente nos espaços oficiais, postura ligada aos fatores econômicos, históricos e sociais.

A temática e o recorte definidos na pesquisa são fundamentais para entender os aspectos socioculturais da realidade brasileira, em especial, dos povos negros. Desse modo, na tese, é apresentada uma reflexão sobre a constituição de coleções de povos africanos que têm seus descendentes vivendo e construindo o país, mostrando que a apropriação e o silenciamento desses acervos podem representar uma segunda escravização. 

A pesquisadora  analisa mais criticamente a coleção particular formada por peças criadas na África entre os séculos XIX e XXI, pertencentes ao Dr. Wilson Savino, formada com objetos representativos de diversas culturas negras africanas. A coleção é entendida como um fenômeno social e museal ocidental, que busca organizar, um diversificado e contraditório, sistema social que se encontra em permanente disputa. 

O acervo é constituído também por pinturas e esculturas autorais e datadas, produzidas no século XXI, representando a individualidade de cada artista. Mesmo revelando aspectos do coletivo, elas não são classificadas como obras coletivas. 

Usadas como “testemunhos materiais”, o estudo  procura mostrar a amplitude que uma coleção de cultura material pode alcançar, proporcionando conhecer ou desvelar as novas estruturas sociais, que foram criadas em determinados tempos e espaço históricos, e que continuam vigentes de forma cada vez mais ativa.

Eloísa Ramos ressalta que: “uma das grandes lições que aprendemos ao fazer pesquisa social/cultural é que nunca devemos ver as coisas, os fatos sociais e os museológicos de forma isolada, e muito menos vê-los apenas como se apresentam diante de nós. Devemos sempre buscar saber como se tornaram o que são”.

De acordo com a pesquisadora, a musealização / patrimonialização de objetos de origem africana ou afro-brasileira passa por obstáculos e tendem a ser mais demorados, quando comparados aos processos de objetos de outras origens. O Museu e o Patrimônio Cultural fazem parte da estrutura social e reproduzem as ideologias das sociedades que, reconhecidos, correspondem a determinados grupos, identificados como representativo ou como ideal a ser seguido, e os demais são negligenciados, silenciados, estigmatizados, criminalizados, aliciados; ou seja, o mundo cultural utiliza dos seus mecanismos e aparatos para esses apagamentos e desqualificações, apartando essas culturas da sociedade de uma forma geral.

Um conjunto de objetos museologicamente transformado em coleção de estudo, guiado pelo olhar museológico é capaz de oportunizar novos olhares e posicionamentos no mundo, fazendo uma enorme diferença na teia social, inserindo indivíduos e grupos proporcionando ou reivindicando tratamentos paritários”, conclui a pesquisadora. Assim, as instituições museológicas têm papel fundamental nesse processo social, onde cada vez mais a sociedade civil interessada tem buscado intervir para criar novos discursos.

Acesse a tese em:

SOUSA, Eloisa Ramos. A Coleção (de artes) Africanas Savino em busca de sua musealização: considerações sobre a cultura material negra em museus. 2022. Tese (Doutorado em Museologia e Patrimônio) – Programa de Pós-Graduação em Museologia e Patrimônio, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Museu de Astronomia e Ciências Afins, 2022. Disponível em: https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/public/consultas/coleta/trabalhoConclusao/viewTrabalhoConclusao.jsf?popup=true&id_trabalho=11592772. Acesso em: 27 abr. 2023.


Redação: Marcos Miranda

Revisão: Lucas George Wendt

Diagramação: Herta Maria de Açucena do Nascimento Soeiro

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