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v. 1, n. 2, abr. 2023
Editorial: Mulheres invisíveis, por Ivaneide Bandeira Cardozo (Neidinha Suruí)

Editorial: Mulheres invisíveis, por Ivaneide Bandeira Cardozo (Neidinha Suruí)

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Mulheres invisíveis

Ivaneide Bandeira Cardozo (Neidinha Suruí)
neidinhasurui@gmail.com

A luta das mulheres para ter seus direitos sempre tem como protagonistas nos artigos ou matérias na imprensa as mulheres não indígenas.

A violência que as mulheres indígenas sofrem é invisível, pouco ou quase nada se vem tratando sobre o assunto. É como se fosse tabu falar da violência contra a mulher indígena, seja interna ao povo ou externa, causada pela sociedade a envolve.

As crianças e adolescentes indígenas são ainda mais invisíveis diante do assédio, estupro e violências sofridas, é como se estas não existissem.

A jornalista Talita Bedinelli, ao tratar sobre a violência praticada pelo, garimpeiros em seu artigo “Porque os garimpeiros comem as vaginas das mulheres Yanomami?”, torna visível de forma corajosa o que as mulheres Yanomami sofrem, evidenciando o medo, a falta de apoio, e toda a sorte de ameaças e ataques. 

Encarar a situação violenta a que as mulheres indígenas são submetidas é, principalmente, garantir seus direitos.

Na esteira da série de violências sofridas está a introdução de bebidas e drogas nas aldeias, que levam à dependência química de mulheres e jovens, causando entre várias doenças, a depressão e o envolvimento com tráfico.

Vale salientar que, para uma mulher indígena, denunciar um estupro é muito difícil, pois além de sofrer a discriminação e preconceito, estas não têm o atendimento psicológico necessário haja vista, a exemplo de Rondônia, que não se tem profissionais suficientes para atendimentos relacionados à saúde mental nas aldeias. Esta mulher, criança ou adolescente é atendida na rede pública geral, isto quando conseguem atendimento, geralmente por algum profissional que desconhece a cultura e o espaço onde habitam.

Esta situação de desamparo favorece a garimpeiros, madeireiros e grileiros que se apropriem dos recursos naturais e violem os corpos indígenas.

As mulheres indígenas têm se fortalecido na luta por seus direitos, principalmente, quando se trata de seus territórios, pois há muito tem ficado claro que elas e os jovens são o s que mais sofrem com as invasões. Atualmente vemos mulheres como a Tejubi Uru-eu-wau-wau que enfrenta, com seu grupo de guardiões da floresta, os invasores.

O apoio à luta das mulheres indígenas, tirá-las da invisibilidade, é fundamental para conter a violência, mas para que isso aconteça precisamos de políticas públicas que as escutem e as envolvam no planejamento e na execução.

Implantar modelos prontos idealizados para as mulheres não indígenas é mais uma agressão e colonização de mentes e corpos indígenas.

Os governantes precisam entender que as mulheres indígenas sabem o que as protege e o que as ofende e destrói.

O respeito aos direitos passa por envolvê-las nas decisões sobre qual a melhor política pública para ser executada nos territórios indígenas, excluí-las é mantê-las na invisibilidade.

O chamamento tem que ser para que as mulheres indígena para que elas digam o que querem, como querem.

Como disse Txai Suruí em seu artigo “Mulheres que mudam o mundo”, “A luta das mulheres é a luta por um mundo melhor. Que neste 8 de março iniciemos uma revolução para construir esse mundo”.

Mulheres indígenas invisíveis nunca mais!

Referências:

BEDINELLI, Talita. Por que os garimpeiros comem as vaginas das mulheres Yanomami?. Sumaúma, 13 set. 2022. Disponível em: https://sumauma.com/por-que-os-garimpeiros-comem-as-vaginas-das-mulheres-yanomami/ . Acesso em: 29 mar. 2023.

SURUÍ, Txai. Mulheres que mudam o mundo. Folha de S. Paulo, São Paulo, 4 mar. 2022. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/txai-surui/2022/03/mulheres-que-mudam-o-mundo.shtml . Acesso em: 29 mar. 2023.

Sobre a autora

Ivaneide Bandeira Cardozo

Co-fundadora da Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé. Membro do Genthe/UNIR. Ativista dos direitos humanos e meio ambiente. Trabalhando com povos indígenas há mais  de 40 anos.

Formada em História, com mestrado em Geografia e cursando o doutorado em Geografia na Universidade Federal de Rondônia. 


Redação: Ivaneide Bandeira Cardozo

Foto: Gabriel Uchida

Revisão: Lucas George Wendt

Diagramação: Pedro Ivo Silveira Andretta

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