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v. 1, n. 2, abr. 2023
Como a informação permeia o processo de elaboração das representações sociais na comunidade Noiva do Cordeiro (MG)

Como a informação permeia o processo de elaboração das representações sociais na comunidade Noiva do Cordeiro (MG)

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Como a informação permeia o processo de elaboração das representações sociais na comunidade Noiva do Cordeiro (MG)

Pesquisadora traz uma discussão sobre as maneiras pelas quais a informação (de uma forma simbólica) permeia o processo de elaboração das representações sociais e das narrativas identitárias atribuídas e ressignificadas pelos moradores, especialmente as mulheres, da comunidade Noiva do Cordeiro

Na maior parte do tempo, a realidade é complexa e plural. Para além disso, é importante destacar que a perspectiva individual e coletiva também influencia na forma de observar e construir essa mesma realidade.

Assim, alguns autores explicam que as representações sociais podem ser definidas como conhecimentos do senso comum que ganham forma e que circulam nas mais diversas modalidades de interação social. Elas são elaboradas, continuamente, pelos sujeitos, visando compreender e atribuir significados a diferentes aspectos de suas experiências cotidianas.

É importante destacar que esse saber, que se diferencia do conhecimento científico, expressa visões de mundo que orientam a ação e o modo de interpretar a realidade social. Em função disso, por serem formas de conhecimento socialmente elaboradas e partilhadas, as representações sociais manifestam-se nas conversas diárias e concorrem para a construção de uma realidade comum a um grupo social. 

Embora as representações ocupem lugar nas práticas sociais, a objetivação está presente na construção de seus significados mais gerais.  

Mas o que é a objetivação? A objetivação refere-se à tentativa de transformar uma ideia em algo concreto, em uma imagem, por exemplo, para fazer algo se tornar real diante dos olhos, para se materializar uma abstração.

Neste sentido, objetivar é descobrir a qualidade icônica de uma ideia, razão pela qual se faz necessário ressaltar que é da soma de experiências e memórias comuns que extraímos as imagens, as linguagens e gestos necessários para superar o estranhamento do que não é familiar. 

Ao rotular, podemos avaliar um objeto ou pessoa. Ao darmos um nome ou produzirmos uma imagem mental sobre determinado assunto, capacitamo-nos a falar sobre ele, a comunicarmos algo referente a ele.

Assim, naturalizar e classificar são duas operações essenciais à objetivação. A naturalização torna o símbolo real, uma abstração em um conceito “quase palpável”. Já a classificação organiza, nomeia, introduz uma ordem que se adapta à ordem preexistente, atenuando o choque que qualquer novidade pode causar.

Porém, é importante destacar que a categorização não é uma operação neutra em nossa sociedade. A opinião de alguém é contaminada pela opinião sobre alguém. Assim, a armadura simbólica da representação adquire uma armadura de valores.

E para trazer contribuições na compreensão deste tema, um estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), intitulado “Informação simbólica, representações sociais e identidade: confronto de sentidos nas narrativas que (in)formam as mulheres de Noiva do Cordeiro”, discute as maneiras pelas quais a informação (de uma forma simbólica) permeia o processo de elaboração das representações sociais e das narrativas identitárias atribuídas e ressignificadas pelos moradores, especialmente as mulheres, de uma comunidade rural. 

Essa comunidade se chama Noiva do Cordeiro e está localizada a 100 quilômetros de Belo Horizonte (Minas Gerais).

A autora, Juliana Andrade Perdigão, egressa do curso de doutorado do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação da UFMG e autora do estudo, sob a orientação do professor Fabrício José Nascimento da Silveira, traz algumas discussões sobre a relação instituída entre informação, a dinâmica de produção de narrativas e as representações sociais acionadas para falar da comunidade.

A comunidade Noiva de Cordeiro teve início ainda no final do século XIX, tendo passado por diversas fases. Mas, foi durante os primeiros anos do século XXI, nos anos 2000, que a realidade de Noiva do Cordeiro pode ser contada por meio das narrativas midiáticas, ao passo que novas representações são elaboradas nesse processo.

Marcadas por um longo processo de estigmatização social, tendo sido rotuladas de “prostitutas” e “excomungadas” após a decisão de se abolir a religião na comunidade, a história das mulheres em Noiva do Cordeiro se tornou nacional e internacionalmente conhecida em 2008, quando foi feito um documentário produzido e divulgado pelo Canal GNT.

Este documentário abordou o modo de vida na comunidade, suscitando, em seguida, a realização de diversas outras reportagens. Depois, no ano de 2014, a comunidade voltou novamente à cena pública depois que sites e jornais estrangeiros difundiram a notícia de que um grupo de “belas mulheres” de uma localidade rural no interior do Brasil “queria se casar” e “apelavam por homens solteiros”.

A partir desse fato, inúmeras outras narrativas (matérias jornalísticas, documentários, programas televisivos, dentre outras) têm sido produzidas, tanto para mostrar o modo de vida na comunidade, assim como para retomar o episódio da falsa notícia difundida pela imprensa no exterior.

Na visão da autora, a experiência plural das mulheres nessa comunidade rural não consegue ser objetivada em toda a sua complexidade no contexto de narrativas, sendo ancoradas em sistemas representacionais que definem comportamentos compulsórios marcadamente vinculados a discursos ideológicos sedimentados em relações assimétricas de poder, especialmente em relação às questões de gênero.

Isso pode explicar por que essas mulheres, muitas vezes, são denominadas de muitas formas diferentes, tais como: “prostitutas”, “mulheres desesperadas para casar” ou “mães dedicadas e trabalhadoras competentes que conseguiram ressignificar experiências concretas de isolamento e opressão”.

E, neste sentido, a autora traz, dentre os principais resultados, o desvelamento tanto do caráter ideológico quanto da dimensão narrativa da informação a partir da qual as mulheres de Noiva do Cordeiro reelaboram as próprias representações identitárias e o modo como desejam ser percebidas.

 Além disso, também é importante enfatizar a percepção da informação como ação de formar e informar narrativas midiáticas, contexto em que a mediação da informação é atravessada por um complexo processo de valorização econômica e simbólica.

Ou seja, é fundamental destacar que, neste contexto, a informação não está relacionada apenas com a criação e a reprodução das representações, mas se apoia nessas representações de modo a garantir a ampla difusão dos seus conteúdos, bem como um maior alcance de público.

Acesse a dissertação em:

PERDIGÃO, Juliana Andrade. Informação simbólica, representações sociais e identidade: confronto de sentidos nas narrativas que (in)formam as mulheres de Noiva do Cordeiro. 2021. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) – Escola de Ciência da Informação, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2021. Disponível em:  https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/35969. Acesso em: 13 mar. 2023.


Redação: Alessandra Giovana F. da S. O. Borges

Revisão: Herta Maria de Açucena do Nascimento Soeiro

Diagramação: Herta Maria de Açucena do Nascimento Soeiro

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