Editorial: Pesquisa e Divulgação Científica em Ciência da Informação, por Pedro Andretta e Isa Freire
Pesquisa e Divulgação Científica em Ciência da Informação
Pedro Ivo Silveira Andretta
Isa Maria Freire
pedro.andretta@unir.br
isafreire2011@gmail.com
Fazer pesquisa científica não é fácil!
A pesquisa científica, de maneira geral, envolve perceber e observar demandas, fenômenos ou processos de qualquer ordem, definir o recorte da pesquisa, fazer o projeto, buscar fontes e fundamentação de outras pesquisas com temas relacionados, encontrar uma metodologia adequada, coletar e gerenciar dados, organizá-los para análise, descrever tudo que fez, passo a passo, compartilhar o processo e as descobertas sob a forma de artigo, ensaio, dissertação, tese, ou outros meios, de modo que a comunidade científica conheça, avalie e valide a pesquisa. E tudo isso exige tempo e recursos, humanos, financeiros, tecnológicos.
A publicação do resultado de uma pesquisa tem como objetivo a publicização das descobertas. Os pesquisadores têm a expectativa de que essa nova informação seja utilizada por outros pesquisadores para novas pesquisas, avanço da ciência e geração de inovação; os professores e estudantes, esperam que a informação científica seja aplicável ao ensino e aprendizagem de novos conceitos, técnicas, formulações teóricas e metodológicas. Outros interessados podem usar os resultados para elaboração de ações sociais, políticas públicas e comunicação pública da ciência, visando a conscientização da população para sua participação no debate democrático.
A comunicação pública da ciência, que envolve a divulgação científica, pode ser vista como um processo de comunicação da ciência ao público geral; como um meio de democratizar os conhecimentos, fatos e pressupostos científicos; e como uma forma de contribuir para a inclusão de debates sobre temas especializados e de impacto na vida das pessoas. Essa forma de comunicação é fundamental para a educação e informação das pessoas, em meio a teorias da conspiração, crenças equivocadas e pseudociências promovidas por agenciamentos políticos, econômicos e/ou religiosos. Durante a emergência da pandemia de Sars-Cov-2, esta forma de comunicação foi de extrema importância no combate ao negacionismo, à desinformação sobre formas de contágio e tratamento, e para promover o incentivo à vacinação.
A preocupação com a divulgação científica não é recente. Exemplo disso é a revista Popular Science Monthly, criada em 1872 por Edward L. Youmans, com o objetivo de tornar a ciência acessível ao público em geral. Esta segue sendo editada até os dias de hoje com o nome Pop Sci. No Brasil, são várias as revistas comerciais, programas de televisão, canais e perfis nas mídias sociais voltados à divulgação científica. Além ainda de iniciativas públicas, como o Jornal da USP, Blogs Unicamp, Revista Ciência e Cultura (da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC), Revista Pesquisa Fapesp (da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP) e Questão de Ciência (do Instituto Questão de Ciência), e, mais recentemente, o serviço Agência Bori.
Muitas áreas da Ciência se dedicam a desenvolver pesquisas sobre o processo, as formas, o alcance e a importância da divulgação científica, e muitos são os resultados de pesquisas em nível de mestrado sobre essa temática. Uma dessas áreas, que busca compreender, descrever e criar modos de aprimorar as formas de comunicação e divulgação científica, é a Ciência da Informação.
Conforme o professor e pesquisador croata Tefko Saracevic, em um artigo clássico citado por mais de mil vezes nas pesquisas da área, essa ciência é “um campo dedicado às questões científicas e à prática profissional voltadas para os problemas da efetiva comunicação do conhecimento e de seus registros entre os seres humanos, no contexto social, institucional ou individual do uso e das necessidades de informação”. Destaque para a inclusão dos seres humanos em geral, independentemente do ofício na pesquisa científica.
No Brasil, a preocupação com a divulgação científica, no contexto da Ciência da Informação, se iniciou já nos anos de 1970, com o então pioneiro Mestrado em Ciência da Informação do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT). Desde a década de 1990 o tema teve destaque em dissertações e depois teses do Programa de Pós-Graduação. O trabalho do IBICT com as discussões e práticas em Divulgação Científica, resultou, em 2002, na implementação do serviço de divulgação Canal Ciência, que recém completou 20 anos de história. Falar de Divulgação Científica, no contexto da Ciência da Informação, no Brasil, só é possível, graças ao legado, principalmente, das pesquisadoras-professoras Lena Vania Ribeiro Pinheiro, Evelyn Goyannes Dill Orrico, Rosali Fernandez de Souza, Gilda Olinto, Sarita Albagli e Palmira Moriconi Valério.
Recentemente, as pesquisadoras Karen Isabelle Santos-d’Amorim, Rúbia Wanessa dos Reis Cruz e Anna Elizabeth Galvão Coutinho Correia abordaram, em artigo para a revista Brajis, os usos dos blogs de ciências no campo da Ciência da Informação. Neste, lançam uma questão pertinente: “O que a Ciência da Informação pode fazer, no que se refere à divulgação, para sair das fronteiras da linguagem científica e demonstrar a importância de seus estudos, para a sociedade, na atual conjuntura?”.
De fato, muitas iniciativas foram construídas na Internet nesses últimos anos, e é impreciso delimitar se alguns projetos serviam aos propósitos exclusivamente de difusão científica (a comunicação de cientistas para cientista) ou conseguiam furar a bolha e alcançar a divulgação científica.
Mesmo correndo o risco cometer injustiças, destacamos: InfoHome mantido pelo Prof. Dr. Oswaldo Almeida Junior; De Olho na CI do Laboratório de Tecnologias Intelectuais da Universidade Federal da Paraíba; a revista Biblioo, mantida por Chico de Paula (in memorian) e Rodolfo Targino; os podcast Farol da Universidade Federal do Rio Grande do Sul; do Plurissaberes da Universidade Federal do Ceará; e a iniciativa WebConCib, que mobilizou a rede da Ciência da Informação no período mais pesado da pandemia. Salientamos também as ações de alguns periódicos científicos, que desde algum tempo trabalham na produção de conteúdos de divulgação, tais como da Atoz, Encontros Bibli e Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação. Além de tantos outros sites, podcasts e perfis no Instagram e Twitter, mapeados pela Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários, Cientistas de Informação e Instituições (FEBAB). É nesse contexto que inserimos mais uma revista.
A Divulga-CI – Revista de Divulgação Científica em Ciência da Informação é uma produção do recém-criado Laboratório Aberto Contexto e Informação da Universidade Federal de Rondônia, em associação com a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Uma revista gestada no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal da Paraíba, sob os cuidados e supervisão dos professores Isa Maria Freire e Guilherme Ataíde Dias, e que agora vem à luz, nas telas e nas mídias sociais virtuais.
Uma revista com foco na divulgação científica de pesquisas em Ciência da Informação, publicando as inovações e análises apresentadas nas teses, dissertações e demais publicações do campo; entrevistas com jovens pesquisadores e pesquisadores experientes; discussões sobre temáticas contemporâneas e publicização de inovações gerados pela comunidade de cientistas da informação. Tudo isso, visando a popularização do campo da Ciência da Informação, seus pesquisadores, projetos e processos de produção e comunicação científica.
Com a publicação da Revista, vislumbramos desafios: a periodicidade que propomos, a manutenção de diferentes plataformas e mídias sociais, a falta de recursos e a quase impossibilidade de criar uma equipe com dedicação exclusiva — além da nossa pouca experiência e de toda ordem de surpresas institucionais que são próprias das Universidades Públicas.
Mas seguiremos! Confiantes no planejamento, em uma equipe escolhida entre amigos novos e de longa data, engajados em colaborar com o campo da Ciência da Informação. Esperamos contar, sobretudo, com a própria rede e a colaboração dos pesquisadores do campo.
Por fim, está lançada a nossa 1ª edição da Divulga-CI!
Agradecemos aos pesquisadores que aceitaram nosso convite e cederam seu tempo para compartilhar experiências e perspectivas de pesquisa.
Esperamos que gostem, que participem e nos ajudem a fazer uma Ciência da Informação cada vez mais interessante!