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v. 1, n. 1, mar. 2023
Perspectivas para estudos em Ciência da Informação: em foco Mulheres na Ciência, por Danielly Oliveira Inomata

Perspectivas para estudos em Ciência da Informação: em foco Mulheres na Ciência, por Danielly Oliveira Inomata

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Perspectivas para estudos em Ciência da Informação: em foco Mulheres na Ciência

Danielly Oliveira Inomata
dinomata@ufam.edu.br

A Ciência da Informação (CI) se debruça sobre as questões da informação e seus fluxos, desde a gênese até o uso da informação por pessoas e organizações, ou mesmo caracterizada pelo processo de transformação de dados em conhecimento, inteligência e saber. Trata-se de uma área relativamente jovem,  cuja origem remonta ao pós-segunda guerra mundial.

Ao longo destes anos, acompanhando vários processos de mudanças e transformações, como a evolução das tecnologias de informação e comunicação, o advento da internet e o próprio processo de globalização, que hoje encontra-se em sua quarta fase, marcada pela Quarta Revolução Industrial, a qual é caracterizada pelo desenvolvimento tecnológico e científico em diversos campos da sociedade. Estes aspectos, seguramente, trazem excedentes informacionais para serem tratados na CI, fazendo emergir muitas temáticas de pesquisa e fenômenos informacionais decorrente de uma sociedade em constante mudança, tais como: pós-verdade, sustentabilidade, questões de gênero, mineração de dados, competência crítica em informação, humanidades digitais, entre outros.

A informação é fundamental para a reflexão crítica, o planejamento, a tomada de decisão e a ação por pessoas, organizações e governos, seja por profissionais da informação como por grupos de interesse em informação, nos mais diferentes nichos: ambiental, social, político, econômico etc.

Como mulher amazônica, que sou, reservo este espaço para falar sobre a perspectiva de pesquisas em Ciência da Informação na Amazônia, dando ênfase na questão das Mulheres na Ciência, tomando como ilustração o nosso projeto institucional “MULHERES NA CIÊNCIA: fluxos de informação, produção de conhecimentos e ações no cenário regional”, desenvolvido sob minha coordenação, tendo colaboradoras as docentes Célia Regina Simonetti Barbalho e Tatiana Brandão Fernandes, juntamente com as discentes Caroline Corrêa Pinheiro (UFPA), Priscila de Nazaré Castro Progene (UFPA), Tatiane Batani Sampaio (Bolsista PIBIC/UFAM), Yasmin Martins Gomes (Bolsista PIBIC), Débora da Silva Rocha (Bolsista PIBIC/UFAM), Kamilla Silva (Bolsista PIBIC/UFAM), Vanessa Arevalo Macario (Bolsista PIBIC/UFAM), Sara Gonçalves de Moraes (Bolsista PIBIC/UFAM) e Delyane de Soura Ramos (Colaboradora PIBIC/UFAM), que tem como objetivo investigar a atuação das mulheres em ambiência regional, os fluxos, a produção de conhecimentos e ações realizadas.

A relevância de estudos sobre Mulheres na Ciência e Ciência da Informação

A desigualdade de gênero é uma questão social e cultural. Para Gamba (2008), essa desigualdade ocorre na cultura de forma geral, de tal maneira que ela produz e reproduz a discriminação, tornando-se concreta nos mais diversos âmbitos, como no trabalho, na família, na política, na ciência e nas organizações. No campo de Estudos de Gênero, no subcampo Estudos da Mulher, a temática mulher na ciência tem crescido no mundo, inclusive no Brasil, nas últimas décadas. Sobretudo, esclarece que estes estudos evidenciam a mulher em suas múltiplas relações com a ciência, atividade que sempre esteve associada ao âmbito masculino e androcêntrico (LETA, 2014).

No que se refere ao feminismo na produção científica da Ciência da Informação, em teses e dissertações, com base na pesquisa de Pinheiro e Inomata (2022), os resultados gerais sinalizam que a produção científica dos PPGCIs sobre a temática ainda é incipiente. os principais temas relacionados ao feminismo são empoderamento feminino, análise da produção científica, interseccionalidade do feminismo, abordando a questão racial, tecnologias da informação e comunicação (TIC), estudos de violência contra mulher e mulheres com privação de liberdade,  direitos reprodutivos e saúde feminina, representação política feminina e políticas públicas e informacionais para movimentos sociais e LGBTQI+. No âmbito dos eventos do ENANCIB – Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação, segundo pesquisa de Luciano, Cortês e Silva (2022), também se mostra incipiente, ao analisar o período de 1994 a 2019, identificou-se 58 trabalhos referentes aos termos ‘mulheres’, ‘gênero’ e ‘feminismo’ na CI, aumentando significativamente na década dos anos 2000, principalmente em 2019, com 14 trabalhos apresentados no ENANCIB.

Nossos resultados e reflexões:

As mulheres amazônidas produzem conhecimentos nas grandes instituições de ensino e pesquisa. No âmbito da área da saúde, as contribuições se debruçam em questões voltadas para: malária; parteiras tradicionais; zika vírus; meningite; saúde sexual e reprodutiva; mortalidade maternal; Hepatite B; dengue; zika vírus; HIV; tuberculose; ulcera; leishmaniose; câncer de colo de útero; oncologia cutanea; meningite; dermatite; alopecia e psoríase. 

Nossas pesquisas mostram que no contexto regional:

·         É notória a contribuição das mulheres acerca de temas envoltos à questão da Amazônia, agricultura familiar, desmatamento, desenvolvimento sustentável e políticas públicas. Ademais, mostram a sensibilidade e preocupação com os recursos naturais e desenvolvimento econômico, que resultam em elemento essencial para a transformação social. (PINHEIRO; LISBOA; INOMATA, 2021);

·         A colaboração científica entre mulheres tem potencial de impacto para saúde e o desenvolvimento amazônico sustentável (Dados da pesquisa de Pinheiro, 2022)[1];

·         As mulheres identificadas nos estudos contribuem para a ciência regional e formam clusters de conhecimentos densos sobre uma diversidade de temas inerentes à pesquisas sobre doenças e questões amazônicas. (Dados da pesquisa de Debora Rocha, 2022);

·         As mulheres que produzem ciência na Universidade Federal do Amazonas (UEA) são responsáveis pela produção de diversos conhecimentos, em destaque aplicados à doenças que acometem as pessoas de nossa região, como a malária. Evidencia-se que as docentes também desenvolveram pesquisas sobre o novo corona vírus causador da Covid-19 que nos colocou em estado de Pandemia. (Dados da pesquisa de Tatiane Batani Sampaio, 2022)[2].

Nossas contribuições almejam demonstrar como a participação nas pesquisas e produções científicas em saúde, meio ambiente e educação trazem as mulheres como protagonistas a frente de pesquisas de demasiada relevância para a ciência, sobretudo, na ciência regional. Com o feito, busca-se dar continuidade ao diálogo sobre Mulheres na Ciência com extensão as diversas possibilidades e perspectivas de estudos na Ciência da Informação, aproximando essas temáticas, evidenciando potenciais de pesquisas sobre: domínios de conhecimentos; ações e políticas públicas; organização e gestão do conhecimento relacionado à minorias: povos originários, LGBTQIA+, mulheres ribeirinhas, mulheres negras e mulheres na política; informação, feminismo e saúde; estudo dos fluxos de informação com vistas a gerar conhecimento para o combate à violência contra a mulher, violência domestica, proteção de dados das vítimas, diretrizes e políticas publicas para o direito da mulher; produção de conteúdo informacionais, para fortalecer as lutas e o enfrentamento às desigualdades; só para citar as possíveis contribuições da CI.

Referências

GAMBA, Susana. ¿Qué es la perspectiva de género y los estudios de género?. 2008. Disponível em: https://www.mujeresenred.net/spip.php?article1395 . Acesso em: 13 fev. 2023.

LETA, Jaqueline. Mulheres na ciência brasileira: desempenho inferior?. Revista feminismos, v. 2, n. 3, 2014. Disponível em: https://periodicos.ufba.br/index.php/feminismos/article/view/30039/17771 . Acesso em: 13 fev. 2023.

LUCIANO, M. C. F.; CORTES, G. R.; SILVA, A. R. Protagonismo social das mulheres na produção científica dos encontros nacionais de pesquisa em ciência da informação (1994- 2019). In: Encontro Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Ciência da Informação, 22. Anais […]. Porto Alegre, RS, 2022. Disponível em: https://cip.brapci.inf.br/benancib/v/207394. Acesso em: 13 fev. 2023.

PINHEIRO, Caroline Corrêa; DE CASTRO LISBOA, Rose Suellen; INOMATA, Danielly Oliveira. Presença das mulheres na ciência regional: uma análise dos artigos publicados no Novos Cadernos NAEA (2010–2020). Informação em Pauta, v. 6, n. 1, p. 2, 2021. Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=8091012. Acesso em: 13 fev. 2023.

PINHEIRO, C. C.; INOMATA, D. O. O feminismo na produção científica da ciência da informação: análise de teses e dissertações. In: Encontro Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Ciência da Informação, 22. Anais […]. Porto Alegre, RS, 2022. Disponível em: https://cip.brapci.inf.br/benancib/v/202019. Acesso em: 13 fev. 2023.


[1] Pesquisa de Iniciação Científica “Mulheres na Ciência da Vida: análise bibliométrica da produção científica das pesquisadoras da Fiocruz e do Hospital de medicina tropical”.

[2] Pesquisa de Iniciação Científica “Mulheres na Ciência: AnáLise Bibliométrica da Produção Científica das Docentes da Universidade do Estado do Amazonas – UEA”. No ano anterior realizou pesquisa com a mesma concepção na Universidade Federal do Amazonas.

Sobre a autora

Danielly Oliveira Inomata

Professora da Faculdade de Informação e Comunicação, Curso de Biblioteconomia, da Universidade Federal do Amazonas. Professora permanente, do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, da Universidade Federal do Pará.
Doutora e Mestre em Ciência da Informação pela Universidade Federal de Santa Catarina, Especialista em Planejamento e Gerenciamento e de Águas e bachalera em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Amazonas. 


Redação e Foto: Danielly Oliveira Inomata
Diagramação: Pedro Ivo Silveira Andretta

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