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v. 1, n. 1, mar. 2023
Em perspectiva: Dos fundamentos históricos e epistemológicos da Biblioteconomia e da Ciência da Informação às frentes de pesquisa, por Gabrielle Tanus

Em perspectiva: Dos fundamentos históricos e epistemológicos da Biblioteconomia e da Ciência da Informação às frentes de pesquisa, por Gabrielle Tanus

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Em perspectiva: Dos fundamentos históricos e epistemológicos da Biblioteconomia e da Ciência da Informação às frentes de pesquisa

Gabrielle Francinne de Souza Carvalho Tanus
gabrielle.tanus@ufrn.br

Antes de compartilhar a minha experiência de pesquisa na área da Biblioteconomia e da Ciência da Informação é importante esclarecer o significado dessa palavra perspectivas, que apresenta diferentes modos, caminhos, olhares em torno de algo ou alguma coisa. Um ponto de vista denota também uma perspectiva de alguém, e essa abertura da palavra é deveras interessante, promovendo nas ciências perspectivas diferentes de estudo em torno de um fenômeno vinculado a um campo específico do saber. Bom, mas o/a leitor/a pode estar se perguntando, afinal, o que é Biblioteconomia? O que é Ciência da Informação? Já adianto que não trago a única ou a verdadeira resposta aceita pela comunidade acadêmica. Mas, a minha perspectiva construída sobre o entendimento acerca da Biblioteconomia e da Ciência da Informação ao longo desses anos, a qual pode ser encontrada publicada em artigos, capítulos, anais de eventos. Essa dimensão discursiva sobre um campo científico pode parecer abstrata ou filosófica demais para alguns, pois bem, é nessa seara dos fundamentos históricos e epistemológicos que se encontram as minhas pesquisas desde o mestrado, passando pelo doutorado, até os dias atuais como líder de um grupo de pesquisa cadastrado no CNPq “Estudos Críticos da Biblioteconomia e Ciência da Informação”.

Sabemos que todo campo do saber, campo científico, requer uma construção sobre si mesmo, sobre sua história, seus conceitos, suas teorias, metodologias, relações dialógicas com outros campos do conhecimento, as quais não são estanques e estáveis. A ciência é dinâmica e encontra-se vinculada no tempo e no espaço histórico, e, obviamente, é realizada por pessoas/pesquisadores/sujeitos com intencionalidades, interesses, poderes, capitais simbólicos e culturais que produzem distintos efeitos. Desse modo, olhar para a Biblioteconomia e a Ciência da Informação envolve discutir relações de força e de poder entre esses campos, que apresentam histórias de encontros e desencontros entre si e ainda com outros campos. É potente ver a trajetória dos campos em busca de respostas para os problemas que a sociedade constrói e impõe.

Diante disso, no mestrado voltei para a busca de compreensões entre a Arquivologia, a Biblioteconomia, a Museologia (cursos de graduação no país) e a Ciência da Informação (curso de pós-graduação – mestrado e doutorado no país) a partir do estabelecimento acadêmico-institucional que se manifesta na localização dos cursos (proximidades e afastamentos), e, consequentemente, nos projetos políticos pedagógicos. Importante destacar que a minha graduação em Biblioteconomia se deu na Escola de Ciência da Informação, da UFMG, onde são ofertados também os cursos de Arquivologia e Museologia, criados devido ao projeto de reestruturação e expansão do governo federal, REUNI, durante o segundo governo Lula, momento que vivi enquanto aluna de graduação e vi a universidade se transformar em cores, números, cursos, possibilidades e perspectivas positivas de uma sociedade mais justa, mais democrática, com mais investimentos em Educação e Cultura.

No doutorado, interessada em verticalizar os conhecimentos específicos da Biblioteconomia me detive em ler a sua produção teórica publicada no formato de livros de autores dos seguintes países: Brasil, México e Estados Unidos da América. E, ainda, tensionar esses discursos com os saberes das Ciências Sociais e Humanas, pois a Biblioteconomia não estaria afastada também desses outros e diversos conhecimentos. Destarte os conhecimentos da Biblioteconomia manifestam características de três escolas de pensamento: ordenamento do social; contradição do social; e, construção do social. Esse desejo em compreender a Biblioteconomia e seus fundamentos permanece, ou melhor, cresce cada vez mais. Quanto mais adentramos nessa longa história marcada por tantos saberes e fazeres, mais sinto vontade em conhecer mais.

Pois bem, quem estuda a história e epistemologia da Biblioteconomia se depara com inúmeros desafios, um deles, para a Biblioteconomia, é a emergência da Ciência da Informação na segunda metade do século XX. A Ciência da Informação se institucionaliza a partir da criação de cursos de pós-graduação, periódicos, eventos, associações, abre e consolida seu espaço como área do conhecimento no país e no mundo. A Biblioteconomia devotada para os registros do conhecimento e questões de organização, armazenamento, acesso, difusão, recuperação, entre inúmeros outros processos informacionais, contribui para o desenvolvimento da recente Ciência da Informação, que também vai construir seus próprios caminhos abertos pela explosão da informação, fruto da Segunda Guerra Mundial. E não é apenas essa perspectiva hegemônica, anglo-saxônica, que existe. Na UFRN, no âmbito da graduação e na pós-graduação, ministro as disciplinas de “Fundamentos”, em que busco demonstrar, justamente, as várias Biblioteconomias e Ciências da Informação, nascidas nos países da América Latina, Central, na antiga União Soviética, na Europa, enfim, cada país apresenta sua história, seu ensino e fundamentos da Biblioteconomia e da Ciência da Informação.  Efetivamente, não é tão simples realizar separações rígidas de campos que se aproximam, se modificam, se (re)direcionam…

Em suma, a Biblioteconomia não pode ser mais vista apenas como um saber-fazer, uma mera prática ou centrada na biblioteca. Essa instituição e o ensino acadêmico mudaram significativamente, e continuará a mudar, acompanhando as necessidades, demandas e desejos da sociedade. A abertura da Biblioteconomia para a teoria e para a crítica se manifesta nos mais variados adjetivos: Biblioteconomia social, progressista, participativa, revolucionária, socialmente responsável, entre outros. Caminho este de olhar para a epistemologia específica (conhecimento que se produz de e sobre determinado campo), no caso, Biblioteconomia, que tenho conduzido também minhas pesquisas e produções acadêmicas. A Ciência da Informação, por sua vez, não está mais localizada exclusivamente numa dimensão mecanicista da informação que acabará ignorando o contexto social, econômico, político, cultural, de produção, circulação e uso da informação, por exemplo. A desinformação e as notícias falsas, um fenômeno social, que vem crescendo e despertando cada vez mais interesse também ganha um espaço na agenda de pesquisa da Biblioteconomia e da Ciência da Informação. O leque temático das pesquisas em Ciência da Informação é bastante amplo como é também a sua comunidade acadêmica oriunda de diversas formações acadêmicas.

Decerto, múltiplas são as temáticas e perspectivas de estudo e pesquisa da Biblioteconomia e da Ciência da Informação; apresento também vários outros interesses, que permeiam a minha trajetória desde a graduação, passando pela pós-graduação em Ciência da Informação. E essa abertura para outras temáticas e projetos é fantástica e possibilitada pela própria dinâmica e complexidade da Biblioteconomia e da Ciência da Informação. Para ilustrar essa diversidade no âmbito da pós-graduação, o evento “Encontro Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Ciência da Informação” apresenta doze grupos de trabalhos (GT´s). Ademais, cumpre destacar os eventos “Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação”; “Seminário Nacional de Bibliotecas Universitárias”, cada um com vários grupos de trabalho, entre outros diversos eventos específicos nacionais e internacionais, os quais abrigam uma variedade de pesquisas e debates.

Para finalizar, então, destaco alguns dos temas que tenho o prazer de ler, escrever, pesquisar, como, por exemplo, as bibliotecas sejam elas públicas, comunitárias, escolares, universitárias. Essa instituição social, política, cultural, educacional, informacional tem a potência de transformação a partir da ação de seus profissionais (bibliotecários/as), de seus acervos, de seus serviços, produtos e projetos. A informação como um artefato humano e social, construído pelos sujeitos, que se manifesta em diversas materialidades e espaços é também uma perspectiva da abordagem social da Biblioteconomia e da Ciência da Informação que me ocupo.  De modo que as pesquisas voltadas para a mediação da informação e da cultura, práticas informacionais, curadoria de conteúdo, entre outras, são temáticas presentes na minha trajetória, ao lado, dos fundamentos históricos e epistemológicos da Biblioteconomia e da Ciência da informação.

Sobre a autora

Gabrielle Francinne de Souza Carvalho Tanus

Professora do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e do Programa de Pós-graduação em Gestão da Informação e do Conhecimento da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Doutora em Ciência da Informação, Mestra em Ciência da Informação e bacharela em Biblioteconomia pela Universidade Federal de Minas Gerais.


Redação e Foto: Gabrielle Francinne de Souza Carvalho Tanus
Diagramação: Pedro Ivo Silveira Andretta

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